segunda-feira, 28 de julho de 2008

"O eu partido"

Quando a força do gesto transforma e subverte as estruturas estabelecidas,a arte manifesta-se como um grito.Quando os nossos gritos libertan-se da imobilidade e ferem qual lâmina afiada os ouvidos da realidade,a arte reinvidica o gesto forte.Entre esses dois momentos de vida pulsante surge o artista e propõe um sentimento profundo e transformador como mágico elo de ligação entre nós e o mundo,entre o homem e a natureza. Transpirando vida e deixando correr por suas veias todo o sangue do mundo,o artista vive por vezes na explosão o paradoxal da síntese,da união.Ele se parte em mil pedaços,mas mantém-se uno,íntegro.Ele corta fundo,mas estanca a hemorragia.Ele aplaina a raiva e permite e permite a ternura.Ele registra o ódio,mas é a garantia do amor.
A grande cidade e todas as suas loucuras provocam a perplexidade em Tião Fonseca. Mas é nela que se encontram todos os símbolos da viagem já vivida;é nessa cidade-em-tela que o artista constrói o seu auto-retrato interior,se despedaça e se saqueia e fere forte com o gesto transformador e subversivo como um grito que não para no ar.

Iberê Cavalcanti

Rio, 17/08/87

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